racionalidade e epistemologia

sábado, 29 de janeiro de 2011

EGITO: DITADURA DE DIREITA NÃO É DITADURA!

As escaramuças ocorridas no Iêmem, na Tunísia e agora no Egito, têm algumas semelhanças e não ocorreram por acaso. Mas esses fatos merecem ser olhados a partir de pelo menos dois pontos de observação: Primeiro, a partir dos conceitos, teorias e paradigmas vigentes no mundo ocidental, cujo peso na realidade do mundo é bem maior do que a sociedade humana está acostumada a quantificar. O fato é que historicamente as nações capitalistas hegemônicas arrogaram-se o direito de determinar a “ordem econômico/política mundial” e, que no formato vigente de “globalização”, não há espaços para Socialismo, Nacionalismo ou autonomia econômico-política! Hoje, na prática, ou se adotam conceitos e teorias da “economia de mercado”, sob os paradigmas da “globalização”, impostos pelos países mais ricos, ou assumem-se todos os riscos de um país “não-alinhado”, o que é péssimo! Pois assim não há alternativa! Em suma, o determinismo do capitalismo internacional retirou das nações menos desenvolvidas a capacidade de distribuir internamente as riquezas naturais, agrícolas ou manufaturadas, e, inclusive a soberania para escolher modelos de produção e Regimes de Governo compatíveis com seus interesses! E isto ajuda a explicar o paradoxo da aceitação por parte dos países mais ricos, de Governos autoritários e anti-democráticos, inclusive a sua perpetuação, sem qualquer espécie de represália como costumam fazer com seus opositores. Por outro lado, os “não-alinhados” sofrem discriminação, pressão, embargos e agressões constantes! Evidentemente, eles apresentam explicações de ordem variada para essa dicotomia conceitual, as quais são desprovidas de sentido lógico. Apenas para lembrar alguns desses paradoxos atuais que somente a “racionalidade capitalista” estilo “camaleão” pode justificar : Que democracia são essas que estão em vigência há décadas em países “amigos” dos norte-americanos, tais como, o Egito? A Tunísia? O Iêmem? A Arábia Saudita? O Paquistão e outros do Oriente Médio? Certamente, só interesses velados explicariam, pois em alguns deles até hoje as mulheres não têm direito ao voto e, em outros, o Governo passa de pai para filho. Será que ditadura de direita não é ditadura? A bem da verdade, essas ditaduras e aristocracias só se tornariam inimigos de “Tio Sam” e “não-alinhados” na medida em que pretendessem independência e soberania! Portanto, não foi por acaso a invasão do Iraque por duas vezes em vinte anos; o bloqueio a Cuba por mais de 40 anos; as pressões, sanções e ameaças à Coréia do Norte e ao Irã. Do ponto de vista das ingerências externas nos conflitos desta semana no Egito, é bom que a população esteja avisada e preparada pois ao que tudo indica Mubarak já caiu em desgraça perante os norte-americanos, tal como aconteceu com Pinochet, que eles colocaram no governo do Chile e depois pediram sua cabeça! Quanto ao segundo ponto de observação, é imperioso notar que a população do Egito, em especial, os mais humildes e a classe média, também empobrecida pelas circunstâncias do modelo econômico capitalista em crise (mais uma vez), já não agüentava mais um governo perpétuo que só tem feito piorar a situação. Uniram-se no descontentamento e partiram para ações mais práticas, embora sem saber exatamente o que virá depois. O problema é que o Egito tem um certo peso econômico e político no Oriente Médio e isso pode repercutir além de suas fronteiras. Além disso, em se tratando de crises dessa ordem, o mundo capitalista já está abarrotado de problemas a resolver. Mas parece que o importante para a população agora é a derrubada de Mubarak. Todavia, ao que tudo indica, caso ele seja deposto ou forçado a deixar o cargo, alimenta ainda a idéia de fazer seu filho o novo Presidente e, assim, apasiguar os ânimos. Nesse caso, as políticas públicas não mudariam grande coisa já que as idéias são parecidas e a realidade do país face ao mundo globalizado não oferece muitas alternativas para mudanças. A perspectiva mais provável é que esse conflito está só no início, razão suficiente para preocupar a “comunidade internacional” (leia-se EUA) especialmente. E por ora não se sabe até que ponto essa situação somada à crise na Tunísia afetará a região. Resumindo: há interesses norte-americanos e de aliados nesse imbróglio. Não com a situação da democracia, tampouco, com a precarização da vida dos egípcios, mas, sobretudo, com a possibilidade do país cair em mãos de algum nacionalista anti-americano! Enquanto o ditador de direita tinha o comando do país estava tudo certo! A coisa ficou mesmo complicada para o “amigo” Presidente Mubarak (por mais de trinta anos) pois já começaram a chamá-lo de “ditador”! (Para o Chaves não deram tanto tempo!) Finalmente, população do Egito, tal qual a da Tuinísia, dá uma demonstração aos ocidentais de que é capaz de expurgar (ainda que tarde) um ditador caudatário de interesses alheios aos seus. Sérgio Corrêa